Reporte de Sessão: Honey Heist (Encontro D30, 10/12/2023)

 No domingo, dia 10 de dezembro, rolou mais uma edição do Encontro D30, evento clássico do cenário RPGístico de Brasília. (Pra quem não soube, me mudei faz menos de dois meses de Salvador.) O encontro contou com mesas de manhã e de tarde; no primeiro turno, fui jogador na mesa de Old-School Essentials do Devorador Quântico – meu anão sobreviveu, graças à covardia sabedoria de fugir de um basilisco. E, na tarde, foi a minha vez de mestrar.

Honey Heist: O Grande Baile

Honey Heist é um RPG de uma página, escrito por Grant Howitt, com uma premissa no mínimo inusitada: os PJs são ursos criminosos que planejam e executam um grande golpe contra uma convenção de abelhas, com o objetivo de roubar muito mel! Como a última edição do Encontro d30 teve como tema norteador das mesas o conceito de baile, adaptei a premissa para incluir tal elemento.

Tirado do site do Encontro D30.

Logo a tarde começou, e um a um os jogadores foram chegando à mesa. Contei com as ilustres presenças do André, do João (que teve sua primeira sessão de RPG de mesa presencial comigo, foi uma grande honra!), do Malliens e do Henrique. Enquanto conversávamos, apresentei o jogo, sua premissa e suas regras, além de fichas de personagem prontas; para o seu personagem, o Malliens propôs que seu urso fosse um urso-de-óculos, e assim improvisei a primeira ruling da mesa: a habilidade deste tipo de urso seria disfarçar-se como um humano.

Como o Honey Heist é um jogo de uma página só, pude garantir para os jogadores, assim como para demais participantes do evento, cópias impressas para quem estivesse interessado. É o trabalho de formiguinha pra convencer a galera a dar uma chance pros indies de vez em quando!

Depois disso, apresentei o cenário da MelCon 2023, que se passaria aqui em Brasília mesmo, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Por ter participado do BB Digital Week lá, já estava um pouco familiarizado com o lugar, mas para lugares da cidade que ainda não conheço pude contar com a expertise dos jogadores residentes. Ao contar do prazo de uma semana entre o anúncio geral da MelCon e a realização do baile da Rainha Zumbívia, a história dos ursos: Francês (fracassado, urso negro, músculos, coroa), Dark (novato, panda, hacker, boina), Asdrúbal (ou Drúbal para os íntimos; aposentado, de-óculos, ladrão, chapéu-coco) e Nick (aposentado, cinzento, ladrão, trilby), e de seu golpe para roubar o Purissimel, começou.

Conduzindo a Mesa

Nunca fui muito fã de aventuras prontas e suas sequências rígidas de eventos lineares; meu estilo aproxima-se mais do descrito pelo Justin Alexander: imagine uma situação, inicie-a para os jogadores, e deixe que as ações de seus personagens ditem como a situação vai se desenrolar, improvisando conforme necessário, e confiando na intuição e no instinto para tornar a experiência a mais divertida possível. E foi assim que fizemos com a nossa mesa de Honey Heist.

Planta do Ulysses, térreo

Planta do Ulysses, primeiro pavimento

Garanti logo aos jogadores plantas impressas do lugar da convenção, uma vez que eles são fáceis de se encontrar na internet. Assim, eles já teriam uma ferramenta visual importante para o golpe. A princípio, inspirado na estrutura de heists, dividiria a história em quatro partes:

  1. Levantamento, onde os PJs buscariam informações necessárias para o golpe, a princípio na internet e em lugares que não fossem o alvo, e depois no local da convenção.
  2. Planejamento, onde os PJs pensariam o golpe e tomariam ações, antes da data e hora, para garantir o seu sucesso.
  3. Execução, onde os PJs de fato realizariam a operação.
  4. Retirada, onde os PJs fugiriam da cena do crime.

Para auxiliar a sequência e garantir que tudo transcorresse em tempo hábil (até porque a mesa estava prevista para durar até três horas), usei também a ferramenta dos clocks, popularizada por Blades in the Dark: cada ação tomada nas duas primeiras partes contaria como uma fração do clock, e quando este acabasse passar-se-ia para a próxima parte. Na prática, as ações dos jogadores, em particular o Francês escalando o centro de convenções para observar as obras do alto, me permitiram ser mais leniente com essa estrutura.

Uma pecularidade das regras de Honey Heist é a mudança constante dos valores dos atributos dos ursos, que podem acontecer tanto de forma passiva quanto ativa: seja incluindo cenas de flashback sobre o golpe, seja fazendo seus ursos comerem mel. E daí veio um dos meus elementos favoritos da mesa: o uso de balas de mel como tokens comestíveis para simbolizar a ação de comer mel. As balas eram distribuídas com parcimônia (sempre 1d4 galões), para representar a escassez de mel para os ursos.

A intenção original era usar sachês de mel, mas não os encontrei.
Com os jogadores preocupados em perder seus ursos para o mundo do crime, eles tomaram precauções, com o Asdrúbal (e, depois, os demais) buscando um pouco de mel nas cercanias para consumir, e assim manter seu lado ursino firme. Um dos momentos mais legais da mesa, para mim, foi vê-los engajados no planejamento do golpe, discutindo o que fazer, que opções tomar, estudando as plantas e os dados que eles já haviam obtido.

Mas o tempo urge, e embora apresentados com a opção de roubar parte do Purissimel, e contar com a segurança mais relaxada, antes da carga completa chegar, os jogadores decidiram esperar até que toda a carga estivesse presente. Foi então que joguei nos dados quais seriam as medidas de segurança da convenção: cães farejadores, guardas com tasers, trancas biométricas e câmeras de segurança, que logo foi hackeada pelo Dark.

Os jogadores tiveram um plano inventivo: trocaram as instruções no sistema para garantir um roubo tranquilo, e furtaram um caminhão refrigerado para manter o Purissimel conservado. Mas eles precisavam de um motorista! Foi aí que, numa cena de flashback invocada pela mesa, pude introduzir dois PnJs: Winnie, um urso amarelo de roupas vermelhas, barba por fazer, sotaque rouco, charutão (enfim, uma mistura de Pooh e Che Guevara, e personagem planejado e listado para uso), que estava acobertando os ursos PJs, e Antão, um ratel incompetente, motorista com chapéu de vaqueiro (personagem improvisado na hora). Foi divertido fazer o Antão querer 30% dos lucros e recuar diante da "contraproposta" do Nick!

Showtime!

Enfim, hora de entrar em ação! Porém, devido a uma rolagem de 6 num único dado, tive a oportunidade (instruída pelas regras de Honey Heist) de introduzir uma complicação. Rolei um d6 e um d8, na intenção de escolher a opção rolada mais divertida. Mas as duas deram o mesmo resultado em suas tabelas: explosão! Foi assim que narrei aos jogadores que, pouco antes do baile, pessoas estranhas estavam perambulando pelo lugar da convenção, e eles ficaram alertas, logo descobrindo que os uniformes usados pelos estranhos eram de uma empresa de demolição; os jogadores deduziram logo o perigo.

Assim, bem no momento em que o baile iria começar, com todos os convidados longe de onde o Purissimel estava guardado, o plano começou a se desenrolar, com o Nick aparecendo no meio do salão de festas, revelando-se como um urso. Enquanto o caos tomou conta do ambiente, as instruções adulteradas surtiram efeito, com o Purissimel sendo retirado para um veículo seguro – na verdade, o caminhão roubado. Mas, bem na hora, explosões começaram a ecoar! Eram as bombas detonando por todo o Ulysses! (E eu ainda rolei um d6 para saber a gravidade... e tirei um 6.)

Depois de uma fuga dramática, envolvendo um Nick feral e descontrolado atacando o Antão, a sorte de haver uma arma tranquilizante no caminhão, e o Drúbal enganando policiais, os ursos finalmente conseguiram evadir-se com o Purissimel, e no epílogo fizeram uma grande festa numa chácara distante! E, com isso, o saco de balas de mel foi passado para os jogadores, que puderam tirar quantas quisessem, e as que ficaram foram distribuídas para os demais participantes do Encontro D30.

João, Henrique, André, eu, Malliens: e os ursos comemoram o golpe bem-sucedido!

Conclusões

Havia muito tempo que não mestrava uma mesa. Foi muito divertido, e fiquei feliz em perceber que os jogadores também se divertiram! Pra mim, foi uma sensação de dever cumprido!

Pontos positivos:

  • O entusiasmo dos jogadores, que curtiram a premissa do jogo e mergulharam fundo no papel de ursos criminosos.
  • As plantas impressas do Ulysses, não só para ser ferramenta visual mas também para ajudá-los a entrar no clima.
  • As balas de mel como tokens comestíveis, que também ajudaram na imersão dos jogadores.

Pontos a melhorar:

  • Planejei PnJs para o baile, que não foram usados; poderia ter planejado mais sobre o lugar e suas características, que teriam sido mais úteis para o plano dos jogadores. Improvisei bastante, e como gosto de improvisar achei legal, mas é bom ter um mínimo estruturado para servir de alicerce.
  • Melhor controle do tempo, ainda mais levando em conta que a mesa ocorreu num evento de tempo limitado; em parte, porém, deixei que as partes que mais empolgaram os jogadores levassem mais tempo, o que contribuiu para a diversão.
  • Esqueci de usar uma tabela com prêmios alternativos para os ursos; poderiam servir como forma de distrair de seu alvo principal (o Purissimel), e poderiam introduzir complicações para os ursos.

Agradecimentos: aos jogadores (André, Henrique, João, Malliens), aos organizadores do Encontro D30, à Amanda que me emprestou seu escudo de Ordem Paranormal (que usei às avessas, com as imagens voltadas para mim, uma vez que a mesa tinha Classificação Indicativa 12+, e as imagens da frente do escudo certamente tinham uma CI maior), ao mestre e jogadores da mesa de OSE pela manhã, ao Grant Howitt pelo excelente jogo e licença que permitiu sua tradução.

Enfim, foi uma experiência fantástica, e mal vejo a hora de mestrar uma mesa de RPG de novo! E aos jogadores, se esqueci de algum detalhe, perdão, e por favor comentem!

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